Como a liderança inibe a participação da equipe
- Camila Scramim Rigo
- há 3 dias
- 2 min de leitura
O silêncio precisa fazer parte da conversa
(texto originalmente publicado no Diário do Comércio de Minas em 11/04/2025)

A cena acontece numa startup. Startups são essas empresas com poucos anos de vida, geralmente pequenas, que desafiam práticas dos setores de que fazem parte. Por trazer alguma inovação em produto, no modelo de negócio ou mesmo nas práticas de gestão.
A equipe de vendas está reunida pela primeira vez para avaliar os resultados do mês. A presidente tem um longo histórico de liderança participativa. Os vendedores são pessoas experientes que trabalharam em diversas outras empresas do ramo.
Os resultados (não muito animadores) são apresentados pela líder, que termina com a seguinte pergunta para sua equipe: O que está na causa raiz da nossa dificuldade de vender?
Silêncio prolongado na sala.
A líder continua esperando uma resposta, aguardando que todos reflitam antes de responder. A resposta que quebra o silêncio é “Não estou entendendo… é pra responder mesmo?”
Essa história real conta sobre duas práticas pouco frequentes da liderança.
A primeira, revelada pelo conteúdo da pergunta da vendedora, é que poucos líderes querem realmente ouvir a resposta das perguntas que fazem, e isso é especialmente verdade em se tratando de colaboradores de mais baixo escalão.
A segunda, inferida pelo tempo que a pergunta demorou para ser trazida, é que os líderes não se alongam na espera pela resposta de suas perguntas.
Quanto mais alto subimos na hierarquia, mais encontramos pessoas de pensamentos rápidos. Talvez precipitados, mas rápidos. Próprios de pessoas que não hesitam, que sabem o que fazer (ou pelo assim parece). Um dos fatores para a dificuldade de esperar é a falta de prática.
A dificuldade de sustentar o silêncio também pode vir do gosto pelo comando e controle (ou ilusão de controle). Silêncios prolongados podem dar espaço para os pensamentos irem “longe demais”. Que mal tem colocar um pouco de contorno do que se deseja como resposta, não é mesmo?
O silêncio após uma pergunta pode significar ainda que a pergunta não foi bem compreendida ou, em outras palavras, que as pessoas estão trabalhando para decifrá-la. Líderes tomados pela ansiedade de terem sido “pouco claros e objetivos” (um pecado imperdoável nos dogmas da liderança) costumam quebrar o silêncio para explicar melhor a pergunta - e fatalmente dão dicas do que esperam ouvir ao fazerem isso. Ufa, silêncio superado, respostas dentro do esperado, conforto reestabelecido!
Isso sem falar nas perguntas retóricas que os líderes fazem, mas já tem suas respostas e não estão muito interessados em substituí-las ou modificá-las.
Em todos os casos, o colaborador sabe exatamente como se comportar: guardar seus pensamentos para si e esperar que o líder responda suas próprias perguntas. É menos trabalhoso e mais seguro.
O que se consegue são as mesmas respostas de sempre, mais uma vez. O silêncio generativo, o silêncio que aprofunda, que sintetiza, que elabora, não tem ambiente para se estabelecer.
Se você tem observado que as reuniões na sua empresa são uma sinfonia de um timbre só, experimente observar também como está a habilidade dos líderes em sustentar o silêncio.
Às vezes, as pessoas não ocupam seu espaço pela falta de espaço mesmo.
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