Delegar é preciso
- Camila Scramim Rigo
- há 4 dias
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Atualizado: há 3 dias
Se tudo depender do líder, muito pouco será feito.
(texto originalmente publicado no Diário do Comércio de Minas em 04/04/2025)

Recentemente estive numa reunião para planejar a facilitação de um dia de conversas entre dois públicos em conflito. Fiz perguntas para entender os objetivos do encontro e o contexto, enquanto meu interlocutor procurava resumir o que, na percepção dele, poderíamos almejar.
Concluída a reunião, fiz meu dever de casa: encadeei perguntas norteadoras e blocos de conversa que pouco a pouco trariam as condições para que a questão chave pudesse ser tratada. Roteiro pronto, hora de apresentar o resultado de volta para o cliente.
Dessa vez, a reunião contaria também com a presença do chefe. Meu interlocutor me explicou, com visível frustração, que seu líder tinha dificuldade de delegar e que eu podia esperar que ele alterasse tudo o que tínhamos conversado até ali.
Respirei fundo, apresentei o que havia preparado e, de fato, o líder fez considerações que alteravam substancialmente as expectativas para o encontro. Não pude, entretanto, condená-lo. Sua perspectiva era muito consistente. Era resultado de maior experiência no campo e de mais maturidade que a de seu subordinado.
Todo líder sabe que é preciso delegar. Afinal, se tudo depender dele, muito pouco será feito. Ele também sabe que, muitas vezes, delega tarefas para pessoas menos preparadas do que ele para fazê-las. E finalmente sabe que quem vai responder pela qualidade do trabalho é, em última instância, ele mesmo.
Delegar é, portanto, um paradoxo. É entregar e não entregar, confiar e não confiar. É esperar auxílio e auxiliar no desenvolvimento de quem te auxilia, ao mesmo tempo. É, algumas vezes, adotar, como se fosse seu, aquilo que você faria diferente.
Que conselhos sábios esta humilde colunista pode dar para aqueles que estão mergulhados na intrincada, desafiadora e cotidiana tarefa de distribuir trabalho para suas equipes?
Se a sua dificuldade está em aprovar algo que não tenha passado pela sua criteriosa conferência, meu conselho é exercitar o discernimento sobre a relevância. Os problemas na execução dessa tarefa serão lembrados daqui a alguns anos? Não sendo o caso, talvez você possa deixar que sua equipe aprenda com seus erros e acertos - e assim se tornar gradativamente mais protagonista e mais confiante.
Se sua dificuldade está em intuir que vai demorar mais para ensinar do que para fazer, meu conselho é analisar em que medida essa tarefa se repete (e somar essas repetições ao comparar o tempo investido e o tempo economizado).
Se seu pavor está em enfrentar as brutais consequências de um trabalho problemático, sugiro que você exercite a observação do perfil de seus colaboradores. Talvez o alto risco de algum trabalho (ou as imperdíveis oportunidades que eles podem abrir) justifiquem a contratação pontual ou permanente de alguém mais preparado.
Faça sua parte fazendo pedidos qualificados, que explicitem os insumos disponíveis e as condições de satisfação para a entrega. E exercite a delicadeza na hora de receber o resultado. Demonstrar irritação ou profunda decepção contribuirá pouco nesse momento, ao passo que paciência e orientação proporcionarão muito - independente das decisões que você vier a tomar a partir das conclusões sobre o desempenho de seu time.
Delegar é um paradoxo, mas todo líder sabe que é preciso delegar (afinal, se tudo depender dele, muito pouco será feito).
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