Quando as conversas são insuficientes
- Camila Scramim Rigo
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Atualizado: há 3 dias
De que forma a vulnerabilidade humana interfere nas conversas e pode colocar todas a perder? (Texto publicado originalmente no Diário do Comércio de Minas em 21/03/2025)

Curioso que seja este o título de uma coluna que está iniciando e que se propõe a falar sobre conversas, sobre o poder das conversas para a liderança, e sobre as possibilidades que elas abrem.
Falo, neste texto de estreia, sobre os limites das conversas. Talvez para estabelecer um rapport, uma conexão com quem não acredita nessa ingenuidade de que “conversas transformam realidades”.
Uma pequena crise precedeu a redação dessas linhas e suspeito que você, líder, já tenha passado por algo parecido. Ao me tornar colunista do Diário do Comércio, passo a ocupar um espaço de poder - como você, líder, ocupa um espaço de poder no seu contexto.
Dois movimentos se seguiram ao me dar conta disso. Primeiramente, senti orgulho e fiquei vaidosa por ocupar esse lugar de destaque. Então fui para o outro lado do pêndulo: me pareceu ser algo grandioso, me senti levemente insuficiente para o tamanho da missão.
Colocando minhas habilidades de mentora em ação, percebi que estava me dando importância demais. Estava tomada pelo meu ego, pela parte de mim que não coloca seus recursos - sejam eles de que tamanho forem - a serviço.
Qual é a relação entre essa crise que resumi e os limites das conversas?
Pelo fato de passarmos por momentos como estes, temos a certeza de que todo ser humano tem necessidades individuais que estão sempre à espreita. Necessidades apenas provisoriamente satisfeitas de se auto afirmar, de se sentir seguro, pertencente, aceito, amado. Sabemos também que, não raras vezes, nos colocamos em ação e em conversação a partir de nossas necessidades individuais (e não das necessidades coletivas) mesmo sem perceber.
E como essa certeza sobre a vulnerabilidade humana interfere nas conversas e pode colocar todas a perder?
Construções coletivas podem passar por momentos indigestos. Como, por exemplo, quando são trazidas ressalvas a ideias que consideramos incríveis, ou sugestões de melhoria que “maculam” uma grande realização nossa, ou comentários que denunciam algum traço de nossa personalidade que desejaríamos manter imperceptível.
Tenho visto líderes que, nesses momentos, são tomados pela tendência irresistível de enxergar, no interlocutor inconveniente, sua vulnerabilidade, suas carências e insuficiências. A pessoa que até então parecia bem resolvida aos olhos do líder, subitamente se torna uma pessoa resistente a mudanças, não disposta a assumir riscos, e poderá adquirir adjetivos novos: acomodada, desrespeitosa, ambiciosa, invejosa, traiçoeira, desleal…
Devo dizer que frequentemente o que vejo do outro lado não é isso. São colaboradores se desafiando e se enchendo de coragem para dizer o que precisa ser dito.
A coluna de hoje faz um convite para refletir sobre o lugar de que você tem partido para entrar nas suas conversas como líder e como ser humano.
É mais frequente para você pensar nas pessoas como sendo egocêntricas, egoístas e mesquinhas? Ou é mais frequente para você reconhecer nas pessoas as boas intenções, os talentos e as contribuições únicas para superar qualquer desafio?
A descrença no outro (e nas conversas, como consequência) é o principal limite para o sucesso das nossas interações.
E chega de conversa, porque temos muito trabalho - interno e externo - para fazer.
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